domingo, 18 de outubro de 2009

COVEIRO


Ninguém fez na sua tumba um memorial
não teve família,a noite sozinho
Pra ninguém nunca fez mal
esperava um gesto de carinho

Na companhia dos mortos
Passa quase todo o tempo
Ajudando a enterrar corpos
sentindo o suave vento

É impressionante
Como cabe uma família inteira no mesmo buraco
depois de um trabalho incessante
descer o caixão no local cavado
O coveiro apura o trabalho
pois tem mais mortos pra ser enterrado

Mãos calejadas
trabalho pesado
Pá e enxada
Agradece a Deus pelos finados
Pois graças a morte tem o seu trabalho
Não tem descanso no feriado
Mas trabalha contente
pois todos os dias morre gente
obres coitados dos indigentes.

Assim segue seus dias
enterrando corpos
separando famílias
Contar ossos
Um passa tempo
um maxilar com dentes tortos
um crânio quase inteiro
Quebra-cabeça com mortos

Uma capelinha
no cemitério
o fim da linha
um caso sério

Já se acostumou com a desgraça alheia
Muitos mortos enterrou
um trabalho que tonteia
Radio,tíbia,úmero
vendo os corpos virados num monturo
Fémur e cara desfigurada
corpos em decomposição na madrugada
conversar com mortos
seu passa-tempo
enterrar corpos
divertimento

Assim segue o coveiro amigo
aguardando o dia em que uma cova será o seu abrigo
sabendo que como todos um dia morreria
Então alguém assumira o seu lugar
Um novo coveiro a trabalhar
Quando esse dia em fim chegar e a morte o chamar
o cemitério continuara ser seu lar
Mais desta vez
num andar de baixo
onde não há paz e nem guerra
A sete palmos da terra
aguardando o juízo eterno
No lugar em que passou a vida
Agora encaixotado e de terno
Passara também a morte
No cemitério.....

Um comentário:

  1. Muito bom cara.

    Engraçado dos textos de sua autoria que li, é que você parece esturdar antes de escrever, não só traz um pensamento próprio que pode se assemelhar com um outro, como sempre traz uma reflexão.

    Abraço

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